quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

[Casos de Amor] Amores mortais e amores imortais


Desde que o irlandês Bram Stoker criou um mito em 1897, o mundo do sobrenatural ganhou uma série de personagens baseado no guerreiro Vlad Tepes, ou Vlad Dracul ou Conde Drácula, dependendo da pronúncia de cada região do mundo. Para quem ainda está por fora da lendária história que já virou obra cinematográfica – a minha favorita é a versão de Francis Ford Coppola em 1992 com Gary Oldman e Wynona Ryder – Drácula foi gerado a partir do momento em que uma série de desencontros e desilusões condenaram um homem e seu grande Amor ao sofrimento eterno. Acreditando que seu amado tivesse morrido em guerra, a jovem Elisabetha comete suicídio, um pecado mortal para a Igreja que a condenou ao Inferno. Vlad que defendeu a mesma Igreja, ficou revoltado, renunciando a Deus e tudo que o Ser onipotente representa jurando a partir daquele momento se alimentar apenas do sangue de homens dando início a lenda do Conde Drácula, o mítico Senhor de todos os vampiros. 

Gary Oldman e Wynona Ryder na versão de Coppola em 1992

Como se vê, o Amor é quase sempre a base de todos os acontecimentos que regem o destino de seres mortais e imortais. O Amor de Vlad por Elisabetha ultrapassa o tempo, gerações e nunca esmorece. Seja como guerreiro ou como Conde sugador de sangue, ele nunca deixou de amá-la, pois acredita piamente que encontrou na moça aquela que chamamos ser a outra metade, a alma gêmea, que só com o olhar consegue enxerga-la, reconhecê-la em um outro Ser. 

A mitologia dos vampiros se firma fortemente neste contexto e ajuda a embalar os mais variados romances de personagens desse Universo. No Buffyverse, ela é fortemente representada pelo nosso mais famoso casal. O vampiro Angel e a caçadora Buffy. 


Foi numa tarde ensolarada de Los Angeles (bem atípica para os vampiros) que Angel avistou Buffy e foi Amor à primeira vista. Segundo o vampiro, foi neste momento que ele enxergou o coração dela à sua frente. Lindo, porém vulnerável, obrigando-o a querer protegê-lo e aconchega-lo junto ao seu. Angel procurava um sentido pra sua vida, mas acabou encontrando algo mais que isso regrado pela convivência de ambos durante o tempo em que ficaram juntos que cronologicamente não chegaram nem perto de arranhar os 140 anos dele com Darla, mas que para o vampiro, foi mais que uma eternidade de Amor e verdadeira felicidade. 
Cartaz promocional do seriado

No entanto para reafirmar as palavras de Giles “isso é até poético, mas de uma maneira bem triste”, a trajetória desse Amor não foi pautada apenas por um caminho de flores. Houveram muitos espinhos também e o mais grave foram as consequências desse Amor consumado em que Angel perdeu a sua alma e tornou-se o terrível Angelus, virando o inimigo número um de nossa caçadora. O fim de toda esta confusão foi trágico, e Angel foi enviado por Buffy para uma Dimensão de tormentos indescritíveis. Ao retornar, a distância entre eles era o mais apropriado, mas o Amor novamente falou mais alto até no momento em que o vampiro toma uma decisão difícil, porém acertada de ir embora de Sunnydale. Sem enxergar um futuro promissor para esta relação, Angel permite que Buffy possa viver sua vida da maneira como deveria ser, porém não abriu mão de ser seu par no Baile de formatura, reafirmando seu status de único. 


A maior prova do tamanho desse Amor vimos no episódio I Will Remember You da primeira temporada de ANGEL quando o vingador da noite abre mão mais uma vez de ficar com Buffy pelo Bem de toda a humanidade. A “despedida” do casal é emocionante e até hoje, apontada como um dos momentos mais sensacionais de todo o Buffyverse. Pelo lado da caçadora, embora estivesse envolvida com Riley, ficou evidente o quanto ela o amava de modo diferente do vampiro que conheceu seguindo seus passos como um implicante vigilante. Por mais que tenha encontrado no Soldado da Iniciativa algumas coisas que Angel não pôde lhe oferecer, como passeios no Parque e piqueniques, Buffy jamais deixou de amar o seu primeiro Amor, o primeiro a quem se entregou por toda a eternidade além da Morte e cinzas. 

Quando o relacionamento com Riley sucumbiu às distinções de força e Poder apresentadas pela relação entre um civil e uma caçadora, Buffy descobriu algo que nem nos seus mais terríveis pesadelos poderia imaginar. Spike, o mesmo vampiro que tentava mata-la, estava caidinho por ela. Domesticado pelo chip implantado em seu córtex cerebral, Spike aos poucos foi se sentindo atraído por aquela pequena mulher, mas de uma força descomunal. A obsessão em não ter conseguido mata-la com o tempo foi tornando-se uma obsessão pela própria Buffy, "a caçadora que escapou". Quando revelou seus sentimentos como uma poeta de coração partido, Spike sofreu ou pior, se revoltou com o desprezo de Buffy, que estava acima dele em todos os sentidos. No primeiro ímpeto quis mata-la, mas não conseguiu se livrar do que começara a nutrir por ela, e isso o deixava tão impotente que foi obrigado a construir uma Buffy robô para atender todas as suas necessidades físicas e egocêntricas. 

Spike "abaixo" de Buffy: nascia assim um louco Amor

Se Angel provou a Buffy todo o seu Amor, Spike não ficou atrás na questão. Em Intervention quando é capturado pelos lacaios de Glory para descobrir informações sobre A Chave, o vampiro se mantém firme diante da tortura da Deusa e no fim, prova a Buffy (que se passava pelo robô) que não revelou e nem pretendia revelar o paradeiro de Dawn. Com este gesto, é recompensado por ela com um beijo terno nos lábios, para surpresa do mesmo. Nascia aí uma relação diferente entre eles com Spike entrando de vez para a turma de Buffy até a morte da mesma, fato que causou ao vampiro um sofrimento que emocionou e surpreendeu pra quem não possuía uma alma. 


Com a ressurreição de Buffy, Spike tornou-se para ela a única coisa que fazia sentido no mundo. A caçadora sentiu que não fazia mais parte de seu mundo, assim como o vampiro nunca fez dando início a uma relação de necessidade. Spike desejava estar com Buffy por conta de sua obsessão enquanto a mesma só o estava usando para se sentir “viva”. Tudo ia bem ao menos pelo lado de Spike, mas a volta de Riley a Sunnydale abriu os olhos de Buffy a respeito da verdadeira essência do vampiro. Por mais que fosse diferente agora por causa do chip, Spike ainda era um Ser das trevas, sem alma, incapaz de sentir algo tão puro quanto Angel. Buffy dá um ponto final à relação, mas Spike não se dá por vencido e provando o motivo do rompimento tenta possuí-la à força. Rejeitado, vai embora de Sunnydale jurando dar à caçadora o que ela merece. 

Tempos depois, Spike retorna tendo recuperado a sua alma como parte do plano do Primeiro para destruir Buffy. O vilão o torna novamente um assassino através de um gatilho em seu chip. Buffy acredita que Spike tem um lugar em seu coração depois de tudo que passaram e não desiste dele, pois sente que ele ainda pode ser alguém digno de possuir uma alma. Assim ela toma a decisão de remover o chip definitivamente. 


Mesmo diante de todas as perspectivas negativas, incluindo a forte oposição de Giles, Spike e Buffy constroem um outro tipo de relação. A de bons aliados contra as forças do Mal, sem o envolvimento carnal. Quando todos os seus amigos, inclusive sua própria irmã lhes viram as costas, é em Spike que Buffy encontra razões para retornar mais forte para a batalha final. No fim, todas estas nuances da relação entre eles, tem sua mais poderosa consequência. Depois de ouvir um “Eu te amo” da parte de Buffy, Spike agradece mesmo não sendo verdade, e então usa a alma que recuperou por ela para enterrar de vez a Boca do Inferno virando um herói ocasional. 

Enquanto isso Angel envolve-se com Cordelia, que está cada vez mais parecida com Buffy no sentido de heroísmo depois de recusar uma vida de fama e sucesso para combater o Mal. Neste processo os dois amigos e aliados sentem-se cada vez mais atraídos um pelo outro e mesmo negando seus sentimentos a princípio, Angel sabe que passou a sentir algo diferente por Cordelia desde que foram possuídos por espíritos de amantes no camarim de uma estrela de uma companhia de Balé. E neste caso, nada melhor que o velho e bom ciúme para confirmar isso. 


O sensível Groosalug retorna de Pylea com um pensamento fixo de ficar com sua Princesa neste mundo. O caso de Groosalug é um pouco parecido com o caso de Buffy e Riley, afinal, ele e Cordy podem ter um envolvimento mais íntimo que o vampiro declina por medo de perder sua alma. Mesmo que saiba que a felicidade absoluta só consegue alcançar com Buffy, para Angel é melhor não arriscar e assim seguir numa existência um tanto quanto celibatária. Só resta ao herói abnegar mais uma vez de seus desejos e se conformar com o fato de novamente perder alguém que ama por conta da maldição. 

Angel e Cordelia: aliados, amigos e possíveis amantes

Angel só não contava que Cordelia fosse corresponder a seus sentimentos. Uma observação bem feita por Groosalug que tira o seu time de campo e quando tudo parecia caminhar para um final feliz entre o casal Cangel (termo designado pelos fãs), uma série de acontecimentos enterra de vez qualquer possibilidade de romance entre eles. Cordelia é levada como um Ser superior para outra dimensão e Angel é vítima de uma armação de Holtz e Justine e jogado no fundo das águas por seu filho Connor como vingança. Ambos até conseguem retornar, mas o caso de Amor fica ainda mais distante quando Cordelia, possuída, dispensa Angel e se envolve com Connor. Na cabeça dos fãs do casal ficou o desejo do que poderia ter sido. O fim da história se dá quando Cordelia desperta do coma na quinta temporada em You’re welcome e com um beijo derradeiro sela o fim de uma história de Amor não consumada dando a Angel a visão de todo o plano da Wolfram & Hart para o Apocalipse. 

Angel e Cordelia em You're welcome:
último ou primeiro beijo?


Todo este Amor imortal descrito por Bram Stoker nas páginas de seu famoso romance tem uma linha de sentido único. Tentar explanar tudo que mesmo em meio a tanta tragédia aquilo que somente os mais felizes conseguiram encontrar. Neste sentido, os fãs de Bangel (Buffy & Angel) tem do que se vangloriar. Mesmo contra todas as adversidades, o Amor deles nunca esmoreceu e deixou de ser verdadeiro. Contudo, os fãs de Spuffy (Spike & Buffy) e Cangel representam uma parcela considerável de todos nós, pobres mortais que ainda não tivemos essa mesma felicidade. Talvez nunca tenhamos, mas nem por isso podemos dizer que nos contentamos com pouco. O Amor vivido na vida real às vezes é o suficiente para ser feliz em meio a tudo que cada pessoa vive e convive neste mundo. Embora seja algo finito, mortal, não deixa de ser real e verdadeiro, afinal, sempre digo que devemos considerar como justa toda a forma de Amor. 

8 comentários:

  1. Ótima postagem, Flávia!

    O amor sempre foi algo presente no Buffyverse, então não podia ficar de fora do blog. O sentimento dos sentimentos foi mostrado de várias formas durante as temporadas, mas o objetivo final era/é o mesmo: Unir, ou ao menos tentar.

    Muitos pensam que o amor só apresenta uma forma, aquele estilo que todos conhecem. Mas esquecem que se trata de uma construção envolvendo os desejos de cada ser! A série mostrou bem isso.

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    1. obrigada David e que bom que você absorveu o contexto sem entrar na rivalidade de preferência entre um casal e outro.

      Claro que todos temos as nossas, mas o mais importante é tentar entender todo um contexto por detrás dessas relações.

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  2. Buffy tinha que ficar com o Angel. Se em Crepúsculo a humana Bella dormiu com o vampiro Edward e nenhuma mudança de comportamento aconteceu bem que isso tinha que valer no buffyverse tbm.

    Eu também cheguei a esse raciocínio de que cordelia assumia a posição de uma buffy na serie angel. A convivencia, a sensação de segurança que ele passava pra ela na misteriosa los angeles, fora aquele charme de caladão e de roupa preta... Tudo isso colaborou para que ela se encantasse pelo vampiro.

    O poder do amor supera qualquer diferença que nos faz nem pensar se nosso amado é uma criatura ou se esse ou aquele defeito. Quando nos consome ficamos cegas.

    Belo ponto de vista posto em debate!

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    1. obrigada mais uma vez pela sua participação Helen e que bom que você absorveu a questão do debate também.

      Quanto a sua comparação entre Buffy e Crepúsculo, Buffy como é mais séria, por isso tornou-se um drama, e não um romance. A própria questão dos vampiros de Buffy é,bem mais "sombria" com a situação de se tornarem demônios sem alma. Já em Crepúsculo é mais romantizada.

      Alguns apontam esta separação entre Buffy e Angel como consequência do personagem do vampiro ter crescido tanto dentro do Buffyverse. Isso poderia ofuscar a protagonista. Não sei se seria isso mesmo se Angel tivesse permanecido em Buffy, mas de qualquer forma cada um tira suas próprias conclusões. Eu tentei fazer uma análise baseada nos pontos fracos e fortes de cada relação.

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  3. Só você Flávia para destrinchar esses detalhes e relacionar o romance com o universo vampiro!! Acredito parcialmente no amor entre humano e vampiro, mas chegará um momento que o processo natural de envelhecimento ceifará a vida do humano... Claro que há uma escolha de ser imortal para viver com seu/sua companheiro(a)


    Em Buffy, acho intrigante o envolvimento da caçadora com Spike, pois ele isento de possuir uma alma adquire um sentimento por ela!!!


    Em Angel, também concordo com a Helen, sobre o espaço que a Cordelia havia prenchido no coração do vampiro, ocupando o lugar de Buffy; pena que ela morre; mas creio que senão fosse desse jeito, não daria pra continuar o romance, a não ser que ela se tornaria vampira ou se abster-se de transar com ele!


    Hipotetizando Flávia, se houvesse uma oportunidade para explorar no Buffyverse, um caso ou envolvimento sério ente Spike e Faith, você acha que daria certo???

    Abraços

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  4. É justamente esta questão de amores impossíveis que mexe com a gente e com a imaginação dos autores. Acho isso incrível, mesmo que não tenha o final feliz.

    Quanto à questão Faith e Spike, acho que dariam muito certo sim, pois Faith não tem muito drama quanto Buffy. Ela é mais direta, sem rodeios, levaria “numa boa” todas as nuances do Spike. Inclusive já shippei muito os dois em uma cena da sétima temporada quando eles estão no porão da Buffy, com Spike se lembrando da vez em que Faith esteve no corpo da Buffy.

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  5. Buffy e Angel é épico e eterno, um amor completo (havia o elemento romântico e o carnal acentuados, mas sem exageros e apelações desnecessárias), mas são realizado. O episódio Surpresa mostra isto muito bem, pois ali eles tiveram sua primeira e única noite de amor (ao menos para Buffy, já que a segunda vez, só Angel se recordaria), foi o mais sutil possível, só os vimos na cama depois tudo e, ainda assim criou-se todo um imaginário. Conheci alguns casais que se amaram a vida toda e jamais conseguiram ficar juntos realmente. Dizem que os casais inesquecíveis são aqueles que não ficam juntos, pois fica sempre o "como seria?". Cordélia e Angel, Buffy e Spike tiveram a oportunidade se viver algo mais palpável, tiveram mais convivência, intimidade... Mas sempre davam a impressão de incompletos, tanto que Cordélia se perdeu de Angel e Buffy terminou com Spike sem uma razão contundente.

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    1. Perfeito!

      Parabéns você entendeu o que quis dizer meu post! A diferença entre Amores (I)mortais e Amores mortais.

      Valeu pelo comentário!

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